E o que vocês fazem?
Os 33 estupradores não são monstros. São homens mesmo. Que trabalham, que tem mães e irmãs. Que jogam futebol com os amigos, que vão ao mercado domingo, que pegam transporte público diariamente.
São homens, não são monstros não.
São homens que foram ensinados que o valor de uma mulher está naquilo que eles avaliam como determinante do valor dela: a roupa que usa, a forma que vive sua sexualidade, a cor que pinta o cabelo, os lugares que frequenta e, principalmente, o homem a quem ela pertence. Sabe? Falam de fulana de forma ofensiva e grotesca na rodinha de amigos e se descobrem que a fulana pertence a um dos fulanos (filha de, irmã de, prima de, esposa de), pedem desculpa pro fulano.
Tem muitos homens incomodados com os textos que estão circulando por aí. Porque falam de “cultura do estupro” e “estupradores em potencial”.
Muitos estão dizendo que jamais fariam isso.
Vejam, nós gostaríamos de acreditar que nenhum de vocês faria isso.
Mas a verdade é que estamos vendo muito pouco do que vocês, que não fazem essas coisas, fazem de verdade, e isso não nos permite prever bem o que vocês fariam.
O que vocês fazem quando os outros fazem?
O que vocês fazem quando o amigo faz piada ou comentário machista, fala que mulher é maluca ou discursa sobre mulheres que “não se dão ao respeito”?
O que vocês fazem quando alguém diz que “tem mulher que pede”?
O que vocês fazem quando pessoas tentam proibir mulheres de amamentar em locais públicos?
O que vocês fazem quando tem assédio bem na frente de vocês?
O que vocês fazem quando descobrem que um amigo filma mulheres durante o sexo, sem autorização delas, e mostra o vídeo por aí?
O que vocês fazem quando recebem esses vídeos?
O que vocês fizeram quando um apresentador disse que “comeria” uma cantora e seu bebê? O que vocês fizeram quando ele pediu desculpas para o marido dela, já que pedir desculpas para ela publicamente seria “acabar com sua carreira de comediante”?
O que vocês fizeram quando um estádio inteiro ofendeu a Presidenta em coro?
O que vocês fizeram quando um deputado empurrou uma deputada e disse que não estupraria ela “porque ela não merece”?
O que vocês fizeram quando pessoas colocaram adesivos em seus carros que simulavam o estupro da Presidenta quando abasteciam?
O que vocês fizeram quando um deputado discursou homenageando um torturador que estuprava mulheres e colocava ratos na vagina delas?
O que vocês fizeram quando um Presidente interino extinguiu o Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos e formou uma equipe de ministros totalmente masculina?
O que vocês fizeram quando as feministas levantaram a voz contra tudo isso?
Vejam, nós gostaríamos mesmo de acreditar que nenhum de vocês participaria de um estupro coletivo.
Mas o que vocês fariam, afinal?
Feminista por necessidade, desde criança encontrou na verbalização uma arma de resistência, escreve porque acredita nas palavras como fonte inesgotável de magia, na importância do debate e na força da pluralidade de vozes.
